quarta-feira, 2 de junho de 2010

A Alma das coisas


Inverno ...
Friozinho chegando ...
Hora de tirar das gavetas os agasalhos .
Não sou friorenta,mas tenho preferência por um casaquinho lilaz, que recebi de lembrança de minha mãe quando fez a viagem final.
Olhei para ele e relembrei a historia de amor e carinho daquele objeto .
Voltando atraz lembrei de um programa antigo que meus pais gostavam de ouvir .
Era na Radio Nacional as 8 horas da noite as quintas feiras.
Após o jantar era aquele o nosso programa predileto . O nome era “ A Alma das coisas” .
Nesse programa eles contavam a história dos objetos ,como se eles tivessem alma, sentimentos e raciocínio .
Fiquei olhando o meu casaquinho e resolvi fazer um plágio contando a história dele,que é uma história de amizade e carinho .

Nesse momento mergulhei no tempo e dei asas a imaginação .
Lá vai a história do depoimento do Casaquinho Lilaz ,na minha interpretação:

Estava eu na prateleira da loja que vendia lãs e linhas .
Já há algum tempo eu estava por lá .
Naquele dia chegou perto da vitrine uma moça .Olhou as lãs e bateu com os olhos em mim .
A vendedora chegou perto e perguntou:
-Que você deseja? Ela respondeu:
-Eu quero 6 novelos daquela lã Lilaz . A vendedora retrucou:
- Não deseja outra cor? Aquela outra ali está mais na moda .
-Não ,eu quero a lilaz ,pois ela é muito bonita ,e eu sei que é a cor preferida da pessoa para quem vou fazer um casaquinho de presente de aniversário .
Paga a compra , e nós (as lãs) devidamente embrulhadas,lá foi a moça de volta para casa .
Ela chamava-se Haidê .
A partir daí passei a conhecer a minha criadora .
Olhou algumas revistas ,para escolher o modelo do casaco,o ponto que usaria ,procurou umas agulhas de tricô,
Ensaiou uns pontos,fez cálculos para o tamanho e ...mãos a obra .
Tão animada ficou ,que eu me senti até feliz .
A partir daí,em todos os momentos de folga ,lá estava ela no seu tricô .
Eu fui crescendo .Ela fez primeiro a frente,Um lado depois o outro .
As vezes pousado sobre seu colo,eu sentia que ela parava um pouco no seu trabalho e parecia triste ,e nesses momentos ,normalmente eu sentia alguma coisa pingar sobre mim.
Só mais tarde descobri que eram lágrimas.
Soube que ela perdera a mãe a algum tempo e tinha sido filha única de um casal .
Que se dedicara aos Pais totalmente .Perdendo o Pai e depois a Mãe ficara só .
Devia ser saudade.
Mais tarde encontrou a amizade de um casal ,por intermédio de amigos comuns.
Para consolo da dor e aliviar a solidão procurou um setor de aprimoramento Espiritual .
Esse casal já bem idoso se afeiçoou a ela , e ela a eles .
A partir daí se formou uma amizade dessas que dizem são forjadas no céu .
Essa amizade durou muito tempo .
Nesse aniversário da amiga , ela resolveu presenteá-la com aquele casaquinho .
Em todos os momentos que lhe sobravam do seu trabalho (ela era educadora )
Lá estava ela sobre mim para terminar o que se propusera .
Terminado os pedaços ,costurou e pregou os botões .
Pronto la estava eu pronto .
No dia do aniversário .minha criadora ,embrulhou-me num lindo pacote ,e partiu para casa da amiga .
Já sentia a falta da minha criadora ,tão doce e carinhosa .
Foi emocionante a entrega do presente,muito carinho e amor .
Não sabia bem ainda o que era esse sentimento mas me emocionei .
Gostei muito daquela velhinha simpática,e do marido velhinho também .
A partir daí passei a fazer parte daquela família por bastante tempo .
Minha nova dona gostava muito de mim .
Passou-se um tempo em que eu não a vi . Depois soube que ela esteve doente internada num hospital .
Quando voltou ,me procurou e me acarinhava ,me vestia e guardava novamente .
De outras vezes a falta dela acontecia e soube mais tarde que ela internara no hospital novamente .
Até que de uma vez não a vi mais.
Eu lá confinado na gaveta .
Um certo dia o marido da minha Dona abriu a gaveta aonde eu era guardado e se dirigindo a filha falou:
-Queres ficar com alguma coisa de tua Mãe? Ela com um olhar muito triste respondeu:
-Só quero aquele casaquinho lilaz que a Tia Haidê fez para ela e que ela gostava tanto .
A partir desse momento fui morar com minha nova Dona .
Na casa tinha muita criança , e o ambiente era de bastante alegria .
Eu permaneci muito tempo na gaveta .Minha nova Dona ,as vezes me pegava ,acariciava ,creio lembrando da Mãe .
O tempo passou,ela foi ficando bem mais idosa,cabeça bem branquinha .
Quando o tempo esfriava ,ela vinha me buscar e colocava para esquentar as costas .
Interessante é como eu sentia nesses momentos a lembrança da minha criadora ,da minha primeira Dona e da minha atual dona como uma trilogia de carinho e amizade .
Eu já estou bem acabadinho também.
Meu tecido já esta bem fininho .
Ainda ontem ela me pegou ,e falou para a filha:
-Meu casaquinho lilaz já esta precisando de um conserto .Pior é que não consigo uma lã de cor igual .
E...olha que eu já estou com um bom buraco debaixo da manga .
Hoje mesmo ,ela me pegou ,ajeitou .e andou tirando umas fotos Na hora eu não entendi para que .
Mais tarde ,ela sentou na frente daquele objeto que se chama computador e escreveu ... Escreveu ...
Ela estava vestida comigo .
Mexeu daqui ,mexeu dali até que eu vi na tela daquele objeto o meu retrato .
Até que nele eu estou bem bonitinho .
Hoje estou até feliz .
Sei que ela gosta de mim... e sabe? ... Eu também gosto muito dela ...

Assim termina o depoimento de um Casaquinho Lilaz
ANBS

5 comentários:

  1. Parabéns pelo texto que dá vida aos objectos inanimados, um estilo de linguagem que encanta.
    Namastê

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  2. Muita paz
    Obrigada pelo comentário
    Isso foi uma espécie de plágio
    Não é mérito meu
    O Casaquinho é ,agora mesmo está aqui esquentando minhas costas
    Isso é falta do que fazer (é o que dizem )
    Mas depois de velha passei a gostar de escrever
    Pode?
    Obrigada pela paciêcia de leres as minhas bobagens
    Namastê

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  3. PAZ amiga!
    Bobagens? o que escreve não são bobagens, são pontos de reflexoes ditados pela experiência.
    Continue a escrever "bobagens" iguais a que tem escrito porque são interessantes e ao contrário do que disse, não é preciso paciência para as ler.
    Namastê

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  4. Oi, acabo de conhecê-la. Muito prazer, Maria Helena. Que bom escrever. também sempre gostei, mas agora criei um blog espaço ideal para isso. Muita paz!

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  5. Oi Maria Helena
    Obrigada pela visita
    Já fiz uma visita ao teu blog Site da vida
    e já me tornei seguidora
    Muita paz
    Alcione

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