Divagações
Perde-se no tempo e na memória a lembrança daquele vasinho,contendo um pé de cactos no cantinho da varanda da casa de meus pais.
Lembro que Mamãe ganhou ou comprou, não sei bem. Para os meus padrões de conhecimento, era um cactos exótico [hoje em dia a variedade é imensa] ,pois em vez dos espinhos tradicionais,ele possuía uma espécie de pelos, bonitos, mas mesmo assim espetavam, muito sutilmente ,mas como
Espetavam!
Era uma das plantas preferidas de minha Mãe.
A vida foi passando. Chegando a época da viagem definitiva dela, eu perdi de vista aquele vasinho simpático.
Esporadicamente eu visitava a velha casa de meu Pai,
Mudaram alguns moradores na casa, e talvez pelo fato de não sentirem o mesmo amor que minha Mãe sentia pelas plantas, ou talvez, pelos espinhos sutis do velho cactos, ele foi retirado daquele cantinho de varanda,quem sabe por proteção aos dedinhos das crianças que moravam lá na ocasião.
Por esse motivo, eu o perdi de vista e até da memória por algum tempo.
Certo dia em visita a meu Pai, encontrei o vasinho num canto do quintal, parecendo que ia ser descartado. Pedi-o e meu Pai prontamente me deu
Levei-o para minha casa,mudei o cactos para outro vaso e acomodei-o num canteiro perto do muro para ficar mais longe das mãozinhas infantis,pois nesta época meus filhos eram crianças também.
E, lá ficou o cactos.Cresceu muito pouco, mas tudo bem.
Algum tempo depois ... Minhas crianças mais crescidas, resolvi colocá-lo no cantinho da minha varanda também. Ao pegar o vaso observei que ele se encontrava em cima de uma coluna de sustentação do muro, e por esse motivo as raízes ficaram sem ter acesso a terra e a umidade, então percebi por que ele não cresceu mais. Passei a admirara-lo como uma espécie de fortaleza contra as dificuldades da vida, pois apesar de tudo estava ali, miúdo mas bonito.
Mudei-o para um vaso bem maior, adubei, e ai sim,coloquei finalmente no cantinho da minha varanda também,para que ficasse mais perto dos meus olhos
Não sei bem porque ? a partir desse momento passei a sentir uma espécie de afinidade com aquele vegetal,como que a presença dele me trouxesse a lembrança muito amiga de minha Mãe de novo.
Quando em finais de tarde ou em momentos de introspecção por problemas familiares ou pensamentos própios ,eu chegava a ele e muitas vezes tinha a impressão de sentir o suave perfume que ela usava
I M P R E S S Ã O
O tempo foi passando, o cactos foi ficando por ali.
Passados 20 anos ou mais, após uma noite de ventos fortíssimos e chuva intensa, ao chegar a varanda deparei com pesar o meu cactos tombado. Levantei-o, e mais tarde fazendo uma avaliação, percebi que a planta estava doente,senti-me como que órfã outra vez. Botei mãos a obra.Detectei que o mal era´´mela``, doença causada por um fungo.
Coloquei o remédio necessário, porem não adiantou ,em desespero de causa, separei as partes que julguei mais saudáveis.fiz um severo tratamento, e replantei-as em diversos vasinhos.
Só sobraram duas mudinhas, as quais conservo bem protegidas no basculante do meu banheiro
Dias mais tarde recebi a noticia de que seria bisavó.
Feliz, e ao mesmo tempo temerosa pela imaturidade dos jovens pais,fui até a minha velha varanda...
Não mais meu vaso de Cactos....
Não mais aquela suave presença, de quem se foi a tanto tempo...
Melancolia... É... mas a vida continua...
Hoje meses depois destes acontecimentos, recebi a visita da minha neta com a filhinha nos braços... Lindas as duas.
Olhando para aquele serzinho tão abençoado, detectei naquela tez clara e rosada a mesma pele de minha Mãe... e , nos olhos vivos a mesma alegria que ela possuía.
Então me pus a pensar na eterna renovação da vida, seja por artes da genética ou sei lá o que ? fiquei a cismar, fazendo uma comparação entre minhas mudinhas de cactos e aquele ser tão querido, lindo e saudável.
Neste momento acordei para o milagre da Vida e da Natureza que a tudo renova
Basta tenhamos olhos de ver.
Alcione N.B.S
Algum dia de 2005